quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Homenagem ao cartunista Arnold Coimbra


"Quando se fica velho, volta-se a ser criança. Com as rugas, não me importo, pois elas não dizem nada, apenas me demonstram o quanto já vivi. E, sinceramente, viver é a melhor coisa que existe para se fazer por aqui. Por isso, temos que aprender a reclamar menos para poder aproveitar da melhor forma o que a vida pode nos dar de bom".
Arnold Coimbra


Tudo tem um início e um fim, até mesmo uma piada. Foi com alegria, apesar dos transtornos da vida, que Arnold Coimbra, um dos mais antigos cartunistas em atividade até então no Rio Grande do Sul, registrou sua passagem pelo Planeta Terra. Passando para seus desenhos as cores que ele via em coisas tão simples e cotidianas, encantando amigos e transeuntes que passavam em frente as vitrines das ferragens dos Irmãos Rego, ali na Duque de Caxias, ou na Vice-Almirante Abreu.
Nascido na localidade do Povo Novo, na cidade do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, mesmo vilarejo onde nasceu o herói farroupilha General Netto, Arnold Coimbra cresceu, brincou, namorou e desenhou muito, participando do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, nos primórdios dos anos 70, e inventando muitas charges e cartuns sobre as festas juninas, a política em Brasília e a formação de quadrilhas, o que, de alguma forma, era a síntese desenhada dos dois assuntos anteriores.
Imitava a voz do Lula com maestria, votou no PT, era um comunista mesmo sem afirmar isso. Poderia ser, quem sabe, anarquista, tudo depende do ponto de vista dos outros, é claro.
Deixou uma legião de amigos espalhados por todos os cantos por onde passou. Embora tenha viajado pouco, muito mais nas idéias do que em cidades. Levou uma vida humilde, ultimamente havia morado por longos anos no Asilo de Pobres e logo após no Pensionato Meu Terceiro Lar, onde era o antigo Hospital da Beneficência Portuguesa.
Seu sonho era ter seus desenhos publicado em um grande livro, ou numa série de livros, todos coloridos, com acabamento merecido, mas nenhuma empresa, nenhum prefeito, se importou em registrar a obra desta grande mente pensante e desenhante. Todo seu acervo ficava guardado num pequeno guarda-roupa, que possuía na verdade poucas roupas e poderia ser chamado de guarda-desenhos. Hoje o medo toma conta de quem já esperava sua partida, pois ninguém sabe qual o destino que sua obra terá, se as paredes de um museu, as gavetas de uma biblioteca, ou a lata de lixo de pessoas que não sabem o valor histórico e cultural de sua obra, que registra os últimos 40 anos da cidade do Rio Grande e do Brasil.
Sua mente não parava, raramente, ou quase nunca, havia se gripado. Segundo ele passou décadas sem ter uma única gripe ou resfriado, mas desde o final de 2008, um espirro aqui, uma dor de garganta ali, começava a afligir esse grande pensador, que não deixava de passear pela Praça Tamandaré mesmo em dias de pouquinha chuva.
E foi assim, inesperadamente, na manhã do dia 13 de outubro de 2009, como suas idéias, que ele partiu, deixando um legado de carinho, amor, amizade e muita arte, espalhada pelos corações de todos que o conheceram.
Ao amigo Arnold Coimbra, onde quer que esteja, a luta continua companheiro! Descanse em paz e continue suas pinturas aquarelando o céu e usando o errorex, seu segredinho, para dar aquela manchinha branca nas nuvens.















Arnold Coimbra recebendo a homenagem no 1º Espraiar do Cartum Gaúcho em Janeiro de 2005

O Condutor do Humor


O chefe do Vagão
Comprime o olhar
Sentindo-se sem rumo
Entre riscos e rabiscos
Traça seu destino
Sozinho, mas lúcido
Não suporta a opressão,
Transporta para o papel
Sua indignação
Risos discretos
Das perguntas
Sem respostas
Que deixa no ar...
Passos rápidos
E miúdos,
Indicam seu rumo.
Amigos, alguns apoiam
Suas reflexões.
A um olhar leigo
Parece um anarquista,
Não aceita doutrinas
Em sua vida.
Mas, quem não gosta
De ser o condutor
Do seu pensamento, das suas ações?
Assim vai o cartunista
Sem censura
Entre riscos e rabiscos.

Autor: Ivonei D´Peraça
Poesia em homenagem ao cartunista rio-grandino Arnold Coimbra, publicada no Jornal Agora no dia 30/05/2003 no caderno O Peixeiro